11 junho 2014

Altitude: o ambiente hipobárico da Terra (3)




Sistema Cardiovascular

O débito cardíaco aumenta substancialmente quando se chega a uma altitude extrema, devido a um aumento da frequência cardíaca.





Como resposta à hipoxia, o volume sistólico diminui para uma determinada taxa de trabalho, no entanto, nas pressões sanguíneas sistólica e diastólica ocorre pouca mudança ou nenhuma. Ao mesmo tempo, o retorno do sangue venoso ao coração e a contratilidade cardíaca mantêm-se. A altitudes extremas são pouco comuns as arritmias cardíacas, mas são muito frequentes os ritmos cardíacos irregulares e uma marcada variação cíclica do número de batimentos cardíacos durante o sono.





Em altitude, a libertação de oxigénio nos capilares dos tecidos é melhorada pelas propriedades únicas da hemoglobina, que é a molécula responsável pelo transporte de oxigénio (O2) nos glóbulos vermelhos.





É notável que a policitemia (maior ritmo de produção de glóbulos vermelhos) seja considerada, com frequência, uma das respostas clássicas e rápidas do organismo perante a hipoxia, porque supõe-se que aumenta a capacidade de transportar O2 do sangue. No entanto, o aumento da hemoglobina que se produz durante os primeiros dois dias em altitude, deve-se na realidade a uma perda do volume de plasma presente no sangue.





Esta resposta do organismo também pode aumentar a viscosidade do sangue, dando origem a um fluxo sanguíneo irregular e a “borrões” nos capilares musculares. Existem investigações recentes que suportam esta ideia: diluir o sangue de montanheiros policitémicos não prejudicou o seu rendimento e induziu uma pequena melhoria nas suas tarefas psicomotrizes.





Esta adaptação policitémica natural, estimulada pela produção da hormona eritropoietina (EPO) nos rins, deu origem a um modelo para produzir uma “dopagem do sangue” (também conhecido por auto-transfusão) utilizada de forma ilegal pelos corredores de fundo desde, pelo menos, os Jogos Olimpicos de Montreal de 1976. Assistidos por médicos, essa forma de dopagem foi utilizada com o recurso a uma das duas técnicas seguintes.





Uma das técnicas, consiste em que após alcançado o aumento de volume de glóbulos vermelhos que se consegue em altitude, extraem-se duas doses de sangue (aproximadamente um litro): um adulto tem em média entre 4 e 5 litros de sangue em todo o sistema circulatório. Depois de centrifugar esse sangue, congelam-se os glóbulos vermelhos e seis semanas mais tarde ministra-se uma transfusão com esse sangue ao atleta do qual se extraiu. O objectivo é aumentar a capacidade de transporte de O2 no sangue e, assim, aumentar a quantidade de O2 que se distribui pelos músculos em movimento. Constatou-se que esta técnica médica melhorava o VO2 máximo e o rendimento, 24 horas após a transfusão e aparentemente durante mais tempo.





O uso suplementar de EPO consiste na segunda técnica para “dopar o sangue”. Com técnicas modernas de biologia molecular (como uma clonagem recombinante de ADN), pode-se produzir EPO de uma maneira sintética.
Uma EPO sintética injectada, pode demorar até 3 semanas para estimular completamente a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea. No entanto, a par de outros inconvenientes, um uso excessivo de EPO pode levar a uns níveis de hematócrito perigosamente elevado (concentração de glóbulos vermelhos no plasma).





Enquanto que um hematócrito normal varia de 42 a 46%, o hematócrito induzido pela EPO pode alcançar os 55%. Como os desportistas de fundo costumam sofrer de desidratação, as perdas do seu volume de plasma são grandes pelo que correm maiores riscos de que se espesse o sangue e de padecerem de má circulação (o que origina que chegue aos músculos menos O2) e, como tal, de terem um enfarte do miocárdio. 





De facto, e a título de exemplo, verificamos que entre os ciclistas de elite foram atribuídas várias mortes devido a um uso ilegal de EPO sintética desde que esta ficou disponível no final dos anos 80. Também a utilizam ilegalmente muitos corredores de distância europeus, e isto apesar de estar proibida pelo Comité Olímpico Internacional e pela U.S. National Collegiate Athletic Association.





No próximo artigo continuaremos com este tema, até lá…





Boas caminhadas

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