18 julho 2013

Caçar (continuação)



Princípios simples estão na base da sobrevivência. Estes incluem a atitude mental, o que vestir e o que transportar. Como sobrevivente, devem-se desenvolver estas artes básicas de sobrevivência, especialmente as relativas à psicologia de sobrevivência, pois estas determinarão se conseguiremos ou não sobreviver.





As Facas
De entre os itens a transportar a faca revela-se de extrema importância numa situação de sobrevivência. Pode ser utilizada para muitas coisas, tais como esfolar animais, preparar frutos e legumes cortar árvores, etc. Por isso mesmo,  deve-se manter sempre a faca limpa e afiada e deve-se tê-la muito bem guardada quando estivermos a caminhar. A lâmina da faca deve ter cerca de 15 cm. Se não existir uma lima ou pedra de amolar, qualquer arenito costuma costuma servir para afiar as facas. Um arenito cinzento dá melhores resultados do que quartzo puro. O quartzo é o único mineral que risca o aço, abrindo um sulco brilhante em todas as texturas. Se não encontrarmos nenhum arenito, devemos procurar granito ou qualquer rocha brilhante e cristalina, com a excepção do mármore. Se tivermos granito, esfregam-se dois pedaços de pedra um contra o outro até ficarem lisos, antes de serem usados como mó. As facas são afiadas de preferência com a pedra de amolar. Deve-se manter a lâmina com uma ligeira inclinação em relação à pedra, Empurrando-se a lâmina afastando-a de nós. Deve-se afiar a lâmina alternadamente de um lado e do outro. Pode-se obter um gume mais afiado aliviando gradualmente a pressão sobre a lâmina.




As facas improvisadas podem ser feitas de madeira, osso, pedra, metal ou mesmo vidro. Para se fazer uma faca com vidro, corta-se ao meio um pau de madeira, insere-se o pedaço de vidro e ata-se tudo muito apertado. Para fazer uma faca a partir de um pedaço de osso, afia-se um dos extremos, (o osso da perna de um veado ou de qualquer outro animal de porte médio é o melhor) e do outro extremo faz-se um cabo. Mesmo as tampas das latas de comida podem ser inseridas num pedaço de madeira e transformadas numa faca improvisada, para melhorar pode-se encontrar um pedaço de ferro macio cuja forma se assemelhe a uma lâmina de uma faca, coloca-se o metal sobre uma superfície dura e lisa e martela-se de modo a obter a forma desejada, de seguida amola-se o metal numa pedra áspera de modo a obter um fio de corte, para finalizar ata-se a um cabo de madeira macia.





Utensílios improvisados para caçar (e não só)

Os sobreviventes imaginativos devem ser capazes de fazer instrumentos e armas  a partir dos materiais encontrados no meio à sua volta e que servirão, na maior parte das vezes, melhor do que os objectos comerciais.




Lança – É a rma mais simples de fazer e de usar. Para tal basta encontrar uma vara, o mais direita possível e afiar-lhe a ponta, ou então colocar nesta uma faca, um bocado de lata, de sílex, de osso, ou de madeira queimada






Cacete – Apesar da sua simplicidade, este é provavelmente um dos instrumentos mais úteis que se pode ter numa situação de sobrevivência. É fácil de fazer e pode ser substituído sem o mínimo esforço. Independentemente do local onde nos encontremos, devemos sempre tentar fazer um cacete. Valerá o seu peso em ouro.
Faz-se o cacete a partir de um ramo com cerca de 5 cm a 6 cm de diâmetro e com aproximadamente 75 cm de comprimento. Pode ser usado para verificar os laços e as armadilhas mortais, para matar os animais que caíram nas nossas armadilhas, como arma, pode também ser usado para matar caça que se desloque lentamente.





Como fazer o cacete

Não se deve escolher um pau que seja demasiado grande ou pesado. Procura-se uma pedra que tenha um formato que permita ser seguramente amarrado ao cacete, isto é, uma pedra em forma de ampulheta. Procura-se um pedaço de madeira, de preferência dura e ata-se uma pega à pedra (pode-se rachar a pega, ou raspar o extremo do cajado até metade do seu diâmetro e encaixa-se a pedra na ponta amarrando-se firmemente). Deve-se inspecionar com regularidade as ataduras para ver se não estão gastas ou laças.

Serras de arame – Pode-se improvisar uma serra a partir de um ramo verde novo ou fazer uma serra de mão,




se formos mais ambiciosos unindo as pontas do ramo com um arame e esticando-o naturalmente pela pressão do ramo verde ou por um engenho criado em madeira para a serra de mão.


se formos mais ambiciosos unindo as pontas do ramo com um arame e esticando-o naturalmente pela pressão do ramo verde ou por um engenho criado em madeira para a serra de mão.




Ferramentas de pedra – O sílex, a obsidiana, o quartzo e outras pedras de cristal podem ser usadas pelo sobrevivente. As pedras podem fazer bons martelos, quer isoladas  ou dotadas com cabos. As pedras de cristal podem ser lascadas ou laminadas de modo a formar um extremo afiado. Quando se estiverem a lascar as pedras com recurso a outra pedra, o golpe deve ser dado num ângulo inferior a 90º, pois de outra forma o choque será absorvido pela pedra. É necessária certa prática para fazer instrumentos de pedra.





Instrumentos de osso -  Se foi morto um animal de grande porte, não nos devemos desfazer da carcaça. As armações e os chifres podem ser usados para escavar, cortar e martelar. Pode-se usar uma faca para talhar os ossos. Assim, por exemplo, a pá do ombro pode ser partida ao meio e cortada de modo a fazer dentes, teremos assim uma serra. Os ossos dos animais mais pequenos também podem ser úteis, as costelas podem ser bem aguçadas e servir de estacas; outros ossos podem ser afiados num dos extremos, enquanto o outro extremo é queimado com um arame quente de modo a fazer-se um buraco, o resultado é uma agulha sólida.





Arco e Flechas – A tensão na madeira não amadurecida é muito fraca, pelo que é necessário fazer diversos arcos e mudar quando o que estivermos a utilizar perder a tensão. A madeira de teixo é das melhores para esse efeito, mas pode-se ter de usar outro tipo de madeira, dependendo do local onde nos encontremos. A madeira do arco deve ter cerca de 120 cm de comprimento. Apara-se a madeira de modo a ter uma espessura de 5 cm no centro e de 1,5 cm nos extremos. Faz-se um corte em cada extremo, com cerca de 1,25 cm de comprimento, para poder encaixar a corda do arco. Esfrega-se o arco com óleo ou gordura animal.
Para a corda, o melhor será utilizar couro cru, embora qualquer corda ou cordel sirvam. Quando a corda estiver esticada no arco, deverá estar sob uma ligeira tensão. O resto da tensão será dada por nós quando a puxarmos para atirar a seta.




As setas devem ser feitas de madeira direita com 60 cm de comprimento e 6mm de largura. Os pedaços de madeira devem ser macios e o mais direitos possível. Abre-se uma ranhura com cerca de 6mm de comprimento, onde caiba a corda do arco. As asas da seta podem ser feitas de penas, papel, tecidos leves ou folhas ajustadas à forma. Se uma pena for dividida pelo centro do cálamo abaixo, deixa-se cerca de 2cm do cálamo em cada extremo da pena para atar à seta. O melhor será atar três asas igualmente espaçadas em torno da seta. As pontas das setas podem ser feitas de lata,



de sílex,



de osso,



ou de madeira queimada.



Para atirar com o arco, coloca-se uma seta na corda e levanta-se o centro do arco até ao nível dos olhos. Segura-se no centro do arco com a mão esquerda (se formos dextros) e pousa-se a seta no cimo dessa mão. Mantém-se o braço que segura o arco estendido à medida que se puxa a corda com a outra mão. Mantém-se a seta ao nível dos olhos enquanto se fizer este movimento. Alinha-se o alvo com a seta e liberta-se a corda. Não se deve agarrar na corda à medida que se liberta esta. Em situação de caça, é muito útil termos várias setas. Deve-se tentar transportar as setas nalgum tipo de aljava e mantê-las sempre secas.



Couro verde – Este material é muito útil e pode ser feito a partir de peles de qualquer animal. O processo pelo qual se obtém o couro é um pouco moroso, mas o resultado final merece o esforço e o tempo gastos. O couro verde tem muitas utilizações, tais como em chicotes, cordas, baínhas para facas e ferramentas. O primeiro passo a dar será remover toda a gordura e músculos da pele (corta-se os grandes bocados e raspa-se o resto com uma faca ou sílex). Deve-se então remover o pelo, aplicando-se uma grossa camada de cinzas no lado da pele que tem o pêlo. Borrifa-se algumas gotas de água sobre as cinzas, após estas terem sido colocadas sobre a pele, enrola-se e guarda-se a pele num local frio durante alguns dias. Quando o pêlo começar a cair passaremos a ter o chamado couro(deve-se verificar constantemente quando é que ele começa a cair). Este couro deve ser desenrolado e colocado sobre uma pedra. O restante pêlo pode ser então raspado, com uma faca ou com um pedaço de sílex.
Quando o pêlo for removido, deve-se lavar o couro e estica-lo dentro de uma moldura. Deve-se secar o couro lentamente à sombra. O couro verde é muito duro quando está seco, mas pode ser amaciado quando embebido em água.




Fisga – Escolhe-se um ramo forte em forma de Y e um pedaço de material elástico (um pedaço de borracha das câmaras de ar dos pneus é o ideal), faz-se uma tira para o centro do elástico e enfia-se ou cose-se na posição correcta a dois fios ou elásticos. Atam-se os extremos dos fios ou elásticos a cada uma das pontas do ramo. Usam-se pedras pequenas como munições. Com a prática pode tornar-se uma arma muito certeira e mortal.





Quando se fizer o tiro com a fisga, coloca-se a fisga acima da nossa cabeça e liberta-se a tira para atirar as munições na direcção do alvo. Quando se estiver a usar a fisga para apanhar pássaros, devem-se usar várias pedras de uma só vez.






Bolas – Embrulha-se as pedras num tecido e ata-se este ao extremo de cordas com cerca de 90 cm de comprimento. Atam-se os outros extremos das cordas uns aos outros. Pega-se na extremidade em que as cordas estão juntas e rodam-se por cima e em torno da nossa cabeça. Quando são largadas, as bolas conseguem alcançar uma vasta área.




Podem ser usadas para apanhar pássaros em voo ou para apanhar as pernas de um animal, dando-nos a oportunidade de nos aproximarmos deles.






Estrela de arremesso – Com esta arma temos quatro vezes mais hipóteses de caçar do que com uma lança. O peso da arma deve ser o suficiente para pelo menos atordoar a pesa. Para fabricar esta arma, deve-se procurar dois paus com cerca de 5 cm de diâmetro e 45 cm de comprimento cada um. Faz-se um corte em quadrado no meio de cada pau e afiam-se as pontas destes.




De seguida colocam-se os cortes em quadrado um sobre o outro formando uma cruz com os paus,  os quais se fixam por intermédio de um nó com um cordel.




Pode-se exercer maior força se estivermos numa posição erecta e arremessarmos a estrela para as pernas da presa.






Espeto de roedores -  Uma lança bifurcada pode ser usada para capturar pequenos animais nas suas tocas. Deve-se empurrar a ponta da lança para o interior da toca. Quando se sentir o animal deve-se torcer a lança bifurcada até o enrolar pela pele. De seguida cuidadosamente puxa-se a lança para fora junto com o animal.





Convém frisar mais uma vez que estes instrumentos são utilizados para situações de sobrevivência extrema, pois é impensável matarmos animais pelo puro prazer de matar. Os animais são lindos de se ver no seu estado selvagem e todos os seres vivos têm direito à vida, mas em questões de sobrevivência prevalece sempre o mais forte, o mais astuto e o mais inteligente, e, logicamente, para além do mais,  o saber não ocupa espaço.




No próximo artigo voltaremos ao mesmo tema, até lá…





Boas caminhadas

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