05 junho 2013

Prever a meteorologia em Montanha (Parte 4)




A interpretação popular do tempo

A Lua

Irmã de Apolo, filha de Júpiter e autorizada a permanecer solteira, a Lua tem sido a raínha incontestada da meteorologia popular. Muitas vezes nos surpreende quando se eleva imensa e brilhante na noite. A sua imagem atravessa obliquamente as camadas de ar, as quais, portadoras de um elevado grau de humidade se comportam como uma enorme lupa.





Se a Lua nos apresentar um aspecto brilhante, com contornos bem nítidos é sinal de tempo bom e seco, mas se pelo contrário, ela estiver esfumaçada, com côr pálida, contornos esbatidos e cercada por um anel esbranquiçado, é sinal de mau tempo, ou pelo menos, de tempo húmido. Como diz o ditado: “Lua à tardinha com seu anel, dá chuva à noite ou vento a granel”.





Se ao nascer, a Lua apresentar uma cor vermelha, é sinal de vento. Se a luz for amarelada indica-nos chuva. Na Lua Nova e nos primeiros dias seguintes, se a luz for pálida e se aparecerem halos (círculos luminosos que por vezes aparecem em volta do Sol e dos Planetas), é sinal de chuva. Quando ao nascer e ao pôr da Lua, se sentir uma pequena aragem de mau tempo, esta mesma aragem aumentará, o mesmo acontecendo com a chuva, mas não acontecendo, no entanto o mesmo, com o vento em caso de bom tempo.
Existem diversas crenças populares de interpretação errada relativamente à Lua e que não assentam em qualquer base ciêntifica, como seja por exemplo, a de que nas proximidades da Lua Nova há maior probabilidade de mau tempo e de que o vento é mais forte nas noites escuras do que nas noites claras. Esta circunstância resulta, apenas da influência da escuridão da noite no nosso espírito, o que torna mais pesado o ambiente em que nos encontramos e que iluminado pelo Sol ou pela Lua, nos daria a impressão de uma maior tranquilidade. Esta razão leva os marinheiros a acreditar que o Sol e a Lua comem o vento e que este aumenta e refresca quando a Lua se esconde do horizonte, o que deu lugar ao ditado muito conhecido “Lua deitada, Marinheiro em pé”. No entanto, quase todos interpretam erradamente este ditado, pois como é sabido, a primeira parte da Lua deitada não se refere à posição mais ou menos horizontal da Lua nos Quartos e Lua Nova, mas sim ao facto dela já se ter escondido no horizonte, o que torna a noite mais escura e obriga por isso, a uma maior e mais atenta vigilância, quando se navega. Esta será a verdadeira interpretação deste ditado, e não a que geralmente se lhe dá.
Também é vulgar dizer-se sem qualquer razão científica que tal justifique, que o tempo que fizer no quinto dia depois da Lua Nova será o que mantém até ao final dessa lunação. “Se pinta quinta, se pinta em quinta, trinta”.
Diz.se, ainda, que se trovejar na Lua Nova, é de crer que o tempo será chuvoso até ao fim da lunação, e daí o ditado  “Lua Nova trovejada, trinta dias é molhada”.





Depois de falar dos indícios fornecidos pela Lua, vamos agora falar dos que nos são fornecidos pelas estrelas.

As estrelas

 Em noites em que o céu se apresente limpo, se as estrelas tiverem pouco brilho, é sinal de mau tempo e chuva. Por isso se diz: “Sem nuvens o céu, e estrelas sem brilho, verás que a tormenta te põe num sarilho”.
Se pelo contrário, elas tiverem muito brilho e cintilarem com intensidade, será sinal de que haverá mudança de tempo e se o brilho for mesmo excepcional, indica-nos que o vento aumentará de intensidade, ou que existe a possibilidade de chuva.
Se no Verão, com vento Leste, as estrelas se nos afigurarem de um tamanho bastante maior do que o normal, é sinal de chuva para muito breve. Quando elas nos aparecem em grande número e com um cintilar muito vivo, é sinal de frio no Inverno e bom tempo no Verão.





Como verificamos, de uma maneira geral, todos os elementos da natureza são capazes, quando observados em determinadas circunstâncias, de nos fornecer indicações para a previsão do tempo, e assim, continuando, falaremos agora do nevoeiro:

O nevoeiro

O nevoeiro, normalmente, é prenúncio de bom tempo, embora por vezes possa anunciar chuva. O nevoeiro nunca se forma com o céu nublado ou com muito vento. Quando o nevoeiro anda baixo e, muito especialmente, quando anda pelos vales, é sinal de bom tempo, e se pelo contrário anda pelo cume dos montes é sinal de chuva. Daí o:  “Se a névoa ao vale baixar, vai para o mar, mas se pelos montes se atrasa, fica em casa”.
No Verão e no Outono, um nevoeiro ténue, de manhã, que desaparece com o Sol, é sinal de bom tempo. Se ele se forma com Sol é de contar com chuva, ou pelo menos tempo enevoado todo o dia.





Se se formar nevoeiro para W com bom tempo, é sinal de mudança de tempo ocorrendo vento forte dessa direcção. É também, de contar com vento forte de W ou SW, quando uma barra de nevoeiro se forma numa dessas direcções. Quando, após um tempo chuvoso, ou melhor, mau tempo, aparece nevoeiro, este indica-nos o final da tempestade e o início do bom tempo. “Depois de chuva, nevoeiro, tens bom tempo, marinheiro”.





Os ditados populares são o testemunho de muita sabedoria. São a síntese de um saber colectivo de gerações. Neste contexto fez-se uma pesquisa e partilhamos aqui alguns desses outros ditados relacionados com a meteorologia:





. “Se o Inverno não erra caminho, temo-lo pelo São Martinho”
. “Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira”
. “Leste escuro, Sol seguro”
. “Céu escamado, ao terceiro dia molhado”
. “Chuva de ascensão, dá palhinhas e pão”
. “Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano mês a mês até final”
. “Alto mar e não de vento, não promete seguro o tempo”
. “Gaivotas em terra, tempestade no mar”
. “Se em Outubro te sentires gelado, lembra-te do gado”
. “Boa noite, após mau tempo, traz chuva e vento”
. “Dezembro frio, calor no estilo”
. “Abril molhado, sete vezes trovejado”
. “Depois da tormenta, sempre vem a bonança”
. “Em Abril, Águas mil, canta o carro e o carril”
. “Abril, ora chora, ora ri”
. “As manhãs de Abril são doces de dormir”
. “Em 1 de janeiro sobe ao outeiro, se vires verdejar, põe-te a chorar, se vires terrear, põe-te a cantar”
. “Em Janeiro, seca a ovelha no fumeiro, em Março no prado e em Abril, se vai urdir”
. “Em Janeiro, 7 capelos e um sombreiro”
. “Aproveite Fevereiro, quem folgou Janeiro”
. “Em dia de São Matias, começam as enxertias”
. “Fevereiro quente, traz o diabo no ventre”
. “Neve em Fevereiro, presságio de mau celeiro”
. “Quando não chove em Fevereiro, nem pratos nem centeio”
. “Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado”
. “Não há mês mais irritado do que o Abril zangado”
. “Em Maio, cerejas ao borralho”
. “Maio frio, Julho quente, bom pão, vinho valente “
. “Guarda pão em Maio, e lenha para Abril”
. “Em Junho, foice em punho”
. “Junho floreiro, paraíso verdadeiro”
. “Chuva Junhal, fome geral”
. “Ande onde andar o Verão, há-de vir no São João”
. “Julho fresco e Janeiro chuvoso, ano perigoso”
. “Em tempo de cuco, pela manhã molhado e à tarde enxuto”
. “Não há melhor amigo, que o Julho com o seu trigo”
. “Em Agosto, orvalho no rosto”
. “O mês de Agosto, será se for bonito, o 1 de Janeiro”
. “Em Fevereiro chuva, em Agosto uva”
. “Ao quinto dia verás que mês terás”
. “Água de Julho, no rio não faz barulho”
. “Vindima molhada, pipa depressa despejada”
. “São Miguel soalheiro, enche o celeiro”
. “Águas verdadeiras, por São Mateus as primeiras”
. “Em Outubro sê prudente, guarda o pão, guarda a semente”
. “Vindima em Outubro, que São Martinho to dirá”
. “Outubro quente, trás o diabo no ventre”
. “Em Novembro, pelo São Martinho, lume, castanhas e vinho!...”
. “Pelo São Martinho, deixa a água para o moinho”
. “Nevoeiro de mais de três dias, durará oito”
. “Dos Santos ao Natal, ou bom chover ou bom nevar”
. “Se em Novembro ouvires o trovão, o ano que vem será bom”
. “Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao natal, assim estará o ano, mês a mês, até final”
. “Mal vai a Portugal, se não há três cheias antes do Natal”
. “Ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar…”






Tipos de tempestade

Na essência, as tempestades podem ser de dois tipos: Frontais Isoladas ou Locais.





1 - Frontais

Este tipo de tempestades surge nas perturbações de frente polar, originadas normalmente por uma frente fria, mas que como veremos, também pode ser originada por uma frente quente. Não dependem das condições locais, mas sim da colisão das massas de ar, que são tanto mais violentas quanto mais húmidas e instáveis seja a massa de ar quente e ainda assim a convecção também tem aqui uma parte interveniente.

De frente fria

Pode ser formada tanto por uma frente fria primária, como por uma secundária. Costuma-se classificar esse tipo de tempestade como sendo a mais perigosa de todas, devido à sua rapidez, bem como à sua violência. Se o ensacamento de ar frio sobre o ar quente for poderoso, o mau tempo estará para durar, mas apenas o tempo que demore a passar a linha da frente.





A sua característica principal, como a de qualquer frente, é que pode chegar a qualquer momento do dia ou da noite e além disso, precedida de uma melhoria temporal de algumas horas com céu a apresentar-se limpo ou estrelado. Os relâmpagos, ainda sem o som do trovão, anunciam o seu avanço eminente (de Oeste ou Sudoeste). Quem for surpreendido na montanha por tal evolução nas primeiras luzes da madrugada, saberá que tardará pouco para começar a batalha. Esta situação é ainda mais arriscada se um montanheiro se encontrar nas vertentes Norte ou Oeste da montanha, pois a visão do céu será parcial e o seu bom aspecto pode-se manter com “boa cara” até à explosão de fúria dos elementos.
As frentes frias empurradas por fortes ventos, frequentemente oceânicos, podem originar tempestades invernais. Manifestam-se principalmente sobre os relevos montanhosos, acompanhados de nevões intensos mas breves.





A surpresa da chegada de uma frente fria, pode ainda ser maior, quando a clássica perturbação “frente quente, frente fria” possui uma linha de frente quente menor. Os montanheiros que se encontrem numa cadeia montanhosa situada a Sul desta frente, não beneficiarão das mensagens alarmistas das nuvens habituais e receberão a frente fria sem os habituais avisos prévios.
Normalmente, entre os meses de Outubro a Abril os Cb não estão tão desenvolvidos em altitude como no verão de forma a produzir granizo. Nestas massas de ar polar, a tropopausa está baixa (a cerca de 8.000 ou 9.000 m) e detém o empurrar da nuvem tempestuosa.

De frente quente

Estas tempestades, como se disse já, não são tão frequentes como as de frentes frias, nem tão poderosas. Desenvolvem-se no interior de vastos sistemas nublosos que acompanham as massas de ar quente e húmido perturbados. Os Cb encontram-se dispersos no seio da massa de ar.
A chegada de uma perturbação deste tipo é progressiva e existe um intervalo de muitas horas entre a chegada das Cs de vanguarda e das massas que se vão precipitar.






2 – Locais (ou Isoladas)

De bom tempo

Também chamadas de “calor”, são de características muito locais. Desenvolvem-se principalmente sobre os relevos favorecidas pelos fenómenos convectivos e/ou orográficos. Ocorrem pela parte da tarde ou ao anoitecer nos dias quentes de Verão nos sistemas montanhosos. Se estes sistemas estiverem, de alguma forma, influenciados por ar húmido oceânico, este facilitará a madureza dos Cb.
O excesso de calor e as camadas baixas, dão lugar a um certo deterioramento da estabilidade geral da atmosfera, mas não provocam um agravamento considerável , visto que a situação geral mantém um carácter anticiclónico. Ainda que muito isoladas, podem repetir-se durante vários dias.
À imagem das tempestades de frentes frias, podem ser violentas e inclusive mais repentinas devido ao seu carácter local. O Cb liberta pontualmente toda a energia solar acumulada num determinado lugar, após um período de calor excessivo. Na maior parte do tempo, o vento dominante é fraco o que supõe um factor agravante, pois a tempestade apenas se espalha libertando toda a sua fúria durante mais tempo e sobre a mesma zona. Pelo contrário, um vento moderado em altitude (de 20 a 40 km/h) diminuirá o risco deste tipo de tempestades, ao deslocar as ascendências e dispersando a humidade das bolhas convectivas que ascendem do solo.
A presença de grandes lagos ou reservatórios na montanha, contribui para aumentar o risco de a tempestade local estourar nas zonas próximas destes, uma vez que o vapor de água que se solta durante o dia, origina uma fonte de alimentação extra.





 Inclusivé no centro de lagos de grandes dimensões, podem-se originar tempestades durante a noite, aproveitando a confluência dos ventos descendentes das vertentes montanhosas.
Este tipo de situações, não é impeditivo para as actividades de montanha na primeira parte do dia. Se o terreno é nevado, as condições não serão as ideais, não apenas porque a temperatura seja alta, mas também porque a possível tempestade do dia anterior, poderá ter deixado bancos de nuvens durante a noite, sendo estas desfavoráveis. Ainda assim disporemos de algumas horas para desfrutar da nossa actividade favorita, isto se nos mantivermos vigilantes aos desenvolvimentos verticais prematuros.
Existem outras variedades de tempestades sobre terra, no entanto com os tipos de tempestades analisados atrás já ficamos com uma base de conhecimento necessária para evitar sermos surpreendidos na montanha.






O Raio

Até chegarem o século XVIII e Benjamin Franklin, não existia uma explicação cientifica para o fenómeno do relâmpago: Um grande raio eléctrico, nem para o trovão: ruido que provoca a expansão explosiva do ar durante o seu percurso.





Hoje sabemos que se produzem devido a diferenças de potencias na ordem de um milhão de volts por metro no interior das nuvens de tempestade, ou entre estas e o solo terrestre. Estas descomunais cargas eléctricas são provocadas pelos movimentos contrários de gelo e água que no seio da nuvem de tempestade sobem e descem freneticamente devido aos ventos. Os relâmpagos podem percorrer uma distância de até 30 km ou arquear a sua trajectória para mais de 10 km de distância do núcleo central da tempestade e à sua passagem a temperatura do ar pode atingir os 30.000ºC. Em todo o planeta ocorrem em média 6.000 trovoadas por minuto. Franklin sonhava em “domesticar” esta energia através de gigantes cometas.





Para não nos focalizarmos demasiado na parte técnica, em benefício da parte prática, resumiremos o tema dizendo que a própria actividade que tem lugar no interior do Cb origina uma clara separação de cargas positivas e negativas (iões), normalmente presentes na atmosfera. As cargas negativas concentram-se na parte inferior da nuvem, que se carrega de electricidade ao mesmo tempo que se acumulam cargas positivas em todos os elementos situados no solo na sua zona mais próxima da nuvem. Esta acumulação é especialmente sentida nas pontas metálicas desse solo. Quando a diferença de potencial é suficiente, produz-se a descarga eléctrica (várias descargas percorrendo o mesmo percurso originam o raio) que se vê como uma luz (relâmpago). Por outro lado produz-se uma explosão (trovão) através do canal de descarga dos gases gerados pelo aquecimento provocado pela libertação dos referidos 30.000ºC alusivos, podendo-se libertar tensões de cem milhões de volts, com intensidade de corrente de várias dezenas de milhar de amperes, e tudo isto a uma velocidade que se calcula entre 10.000 e 100.000 km/s. O raio pode derreter inclusive milímetros de rocha que imediatamente fica vitrificada.





As descargas eléctricas que se produzem durante uma tempestade podem saltar de nuvem para nuvem (relâmpago) ou chegar de uma nuvem até à terra (raio). O raio percorre o caminho de menor resistência entre a nuvem e a terra (a linha mais curta através do ar).
O ar deixa de ser um bom isolante quando está sujeito a uma pressão eléctrica suficientemente alta, pois então ioniza-se e converte-se em condutor e geralmente, nessas ocasiões, sente-se um odor característico a ozono. Um zumbido parecido com o das abelhas e um arrepiar do cabelo anunciam uma descarga iminente.
O raio é electricidade. Quando os mais de cem mil milhões de electrões de um raio normal alcançam o cume de uma árvore não se fica por aí, mas estende-se de imediato em todas as direcções.
Uma descarga eléctrica num determinado ponto irradia-se imediatamente para fora e para baixo, diminuindo o perigo à medida que a distância do ponto de impacto aumenta.
Em consequência existem dois perigos que podem afectar o montanheiro, o impacto directo de um raio e as correntes de terra.

Os possíveis riscos de uma trovoada são:

. Ser alcançado pela descarga de um raio ou do campo eléctrico subsequente à manifestação visível do mesmo, que pode produzir queimaduras graves, lesões internas, inconsciência, falhas do sistema nervoso central, paralisia, etc, e se afectar o sistema respiratório ou cardíaco, sobrevém a morte.





. Pode ser que nenhuma descarga eléctrica nos alcance, mas a simples onda expansiva da explosão, pode-nos fazer perder o equilíbrio e cair, o que poderá causar determinadas lesões.





. Provavelmente não ocorrerá nenhuma das situações vindas a focar atrás, além de uma perda da compostura habitual perante o stress psicológico que a trovoada pode provocar. Nesta situação, a ajuda de um companheiro menos stressado, será imprescindível.

Quando o montanheiro se encontra encurralado por uma tempestade com alto grau de acumulação eléctrica e perante a problemática do momento, é necessário conservar a calma e a serenidade.





Para nos protegermos do mortal impacto directo devemos em primeiro lugar sair de cristas e cumes, e mantermo-nos em locais onde existam saliências ou massas rochosas que estejam mais próximas das nuvens do que nós, que funcionarão como escudo.
As paredes protegem-nos desde que sejam altas e estejamos separados delas de entre 2 a 8 metros.
Evitar as chamadas correntes de terra é mais dificil, no entanto apresenta-se alguns conselhos para evitar ou minimizar as consequências destas:

-          Evitar as zonas molhadas, fendas e canais.

-          Procurar ocupar pouco espaço, colocando os pés juntos e as mãos afastadas do solo, sentados e agachados e se possível sobre objectos isolantes, como uma corda enrolada, um saco de dormir, uma mochila, etc, de preferência secos.

-          Afastar de pequenas depressões, escolher em vez disso uma elevação estreita e fina, uma rocha solta numa zona inclinada é excelente.

-          Não há necessidade de abrigar em pequenos tectos, locais isolados ou pequenas covas. As covas grandes são adequadas se nos mantivermos sentados (na mochila ou algo similar) e afastados das paredes e da entrada (pelo menos a 1 metro de dois lados, do tecto e da entrada e a 2 metros do fundo), no entanto uma cova pode constituir o final de uma fenda ou um desaguamento, pelo que se for este o caso deve-se evitar.






-          Se nos encontramos numa plataforma, devemos sentar-nos no bordo exterior, afastados da parede, se for possível a um mínimo de 1,20 m, ficando atados se existir o perigo de caír após uma descarga eléctrica, colocando a união perpendicularmente ao possível fluxo da corrente eléctrica. Não devemos colocar a corda por debaixo das axilas, o ideal será prender a corda ao tornozelo (o mais afastado possível do coração).

-          Deve evitar-se descer em rappel quando exista perigo de raios, mas pode ser válido se for para nos afastarmos de uma zona de maior perigo.

-          As peças metálicas do equipamento não atraem (contra a crença popular) os raios, apenas são boas condutoras da electricidade, pelo que se aconselha coloca-las afastadas do contacto com o corpo.





Tal como já referimos em publicações anteriores, interpretar a distância que se encontra a tempestade pode ser útil para tomar medidas preventivas. Assim, a distância pode-se calcular contando os segundos que decorrem desde que se vê o relâmpago (velocidade da luz, quase instantânea) até que se escuta o trovão (velocidade do som 340m/seg.) e dividindo esse número de segundos por três. Esse cálculo dir-nos-á a distância aproximada em km. A velocidade de deslocação das tempestades é aproximadamente de uns 30 ou 40 km/hora. Outro método será calcular os segundos passados entre a descarga eléctrica e o trovão, multiplicando-se este número por 340 m/seg. (velocidade do som). O resultado em metros, será a distância a que se encontra a tempestade.





Por último convém lembrar que nos refúgios de montanha e nos veículos, devem ser tomadas também precauções para evitar as correntes de ar que podem atraír os raios, fechando-se  janelas, portas e afastando-nos das chaminés.




Como actuar perante uma tempestade

Indicadores prévios

Quando as tempestades são de carácter local, será difícil prever o local exacto onde se vão formar. Os serviços meteorológicos apenas podem prevenir sobre a possibilidade de formação a nível regional ou num determinado maciço, e não sobre uma montanha ou um vale concretos. Conhecem-se casos em que a velocidade de crescimento de um Cb alcançou a velocidade de 60 km/h, o que significa que se a base da nuvem se formar a 1000 metros de altura, ao fim de 5 minutos, a torre alcançará os 6 km de altura. Isto pode-nos dar uma ideia clara sobre a escassa margem de manobra que podemos ter para agir perante a presença de sinais indicadores num céu pré-tempestuoso, com a finalidade de suspender a actividade e descer para o vale ou procurar um refúgio seguro.






Vamos abordar alguns desses sinais:

. As tempestades chamadas “de calor” são precedidas de um período de uns 7 a 10 dias com temperaturas muito acima do normal.

. As montanhas submetidas à confluência de ventos de distintas proveniências levam todas as características necessárias perante uma situação geral de baixas pressões sem frentes associadas, reforçando ainda mais a actividade convectiva. Isto acontece particularmente, nas zonas influenciadas pelos ventos maritimos carregados de humidade.

. Se antes do meio-dia existirem nuvens cumuliformes com desenvolvimentos verticais significativos sobre as cristas e pendentes orientadas a Sul e a Este, deve-se desconfiar. Se estas se encontrarem a barlavento, ou seja, de frente para o vento dominante, a instabilidade reforça-se ainda mais.





. Se a partir do meio-dia o céu estiver carregado, caótico, com formações nublosas a distintas alturas, pesado e inerte, é muito provável que os cúmulos e inclusive um Cb estejam camuflados entre estratos e outros cúmulos pequenos que nos podem impedir a sua detecção. A atmosfera ficará especialmente aquecida e abafada. No entanto estará presente o regime habitual ascendente de uma brisa de vale. A situação ainda pode ser reversível, pode ser que não chegue a haver tempestade, dependendo da magnitude dos factores já conhecidos.

. Uma elevação brusca da pressão atmosférica com uma prévia pressão inferior à média normal do local, será um dado enganoso. Apenas indicará a iminente erupção de vento e uma mais que provável e posterior descida da pressão.

. A pelagem dos animais carrega-se de electricidade estática, pelo que será aconselhável afastar-nos deles (os rebanhos de ovelhas são muito perigosos).

. Antes de se manifestar qualquer forma de precipitação ou aparato eléctrico, as faixas de vento frio e descendente, fazem-se notar. Pouco a pouco, as toneladas  de ar que o Cb envia, cada vez com mais força, irromperão pelas colinas, anulando as brisas ascendentes dos vales, e aí a “panela” está em vias de transbordar.

. Uma vez que ainda não esteja por cima de nós, e como já vimos anteriormente, primeiro  vê-se o relâmpago e depois ouve-se o trovão. Quanto menor for o tempo decorrido entre ambos, mais próxima se encontrará a tempestade do lugar onde nos encontremos.

. A eminência de um raio é determinada por sinais como um zumbindo ou um sibilar no ar ou pelo eriçamento dos cabelos ou pêlos.



No próximo artigo voltaremos a este tema. Esperamos que os mesmos sejam úteis, pois é com esse objectivo que partilhamos estes conhecimentos.





Até ao próximo… boas caminhadas

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