09 maio 2012

Orientação e Cartografia (1ª parte)

 Quando vamos para a montanha é fundamental possuir conhecimentos de orientação,  e os métodos mais tradicionais ainda são os que dificilmente nos deixam ficar mal nos momentos de dificuldade. Actualmente a alta tecnologia também já chegou a este tema, existindo equipamentos altamente fiáveis, como é o caso dos GPS, altímetros, etc. O inconveniente destes equipamentos  centra-se principalmente no volume (embora já existam modelos com pequenas dimensões), ainda não superam as dimensões de uma bússola, a qual cabe em qualquer bolso, outro inconveniente reside nas baterias ou pilhas que têm um tempo de uso limitado, enquanto que a bússola é ilimitada nesse campo. A bússola quando utilizada convenientemente torna-se uma peça fundamental e mais ainda quando utilizada em simultâneo com um “mapa”. Vamos falar deste tema, nesta primeira parte deste artigo, tentando aprofundar o conhecimento dos pontos cardeais, das cartas e bússolas.  Esta primeira parte torna-se bastante importante para facilitar a utilização destes equipamentos isoladamente e em conjunto, como  vamos abordar no próximo artigo a publicar, dando continuidade a este. Vamos de seguida passar ao tema em questão:

A orientação é o método que se utiliza para determinar a nossa posição actual e a situação do objectivo e para selecionar e percorrer o caminho que existe entre estes dois pontos. De uma forma simples a orientação leva-se a cabo olhando e inspecionando os acidentes do terreno ao nosso redor, sejam montanhas, cordilheiras, bosques, rios, lagos, etc,  e depois relacionam-se com a sua representação no mapa. Esta simples forma requer pequenas doses de habilidade e o seu domínio reside na experiência. Portanto, a prática é fundamental  para uma orientação adequada.

 
Após esta breve introdução, vamos dar umas dicas, de forma que se torne mais fácil orientar-se no futuro. Iremos começar pelo básico, com alguma teoria de forma a facilitar a interpretação e utilização das cartas e da bussola, facilitando a compreensão  para quando passarmos à parte mais prática.

 
Identificação dos pontos cardeais, colaterais e intermédios


Se assinalarmos sobre um plano horizontal de um ponto “A” o meridiano e traçarmos uma perpendicular a esse mesmo ponto, teremos materializadas quatro direcções opostas duas a duas.

Se imaginarmos um observador situado no ponto em questão e se olharmos para o “Norte”, teremos atrás de nós o “Sul”, a direcção da direita indicará o “Este” e a da esquerda o “Oeste”.

Os pontos do infinito destas direcções chamam-se pontos cardeais, que se representam por pacto internacional, pelas letras NSEW.

Pontos cardeais: N – Norte; S – Sul; E – Este; W – Oeste

Pontos Colaterais: NE – Nordeste; SE – Sueste; SO – Sudoeste; NO – Noroeste

Pontos Subcolaterais ou Intermédios: NNE – Non-nordeste; ENE – Es-nordeste; ESSE – Es-sueste; SSE – Su-sueste; SSO – Su-sudoeste; OSO – Oés-sudoeste; ONO – Oés-noroeste; NNO – Non-noroeste.

Ao conjunto de todas estas direcções, denominadas rumos, dá-se a designação de Rosa-dos-Ventos.


 
Por vezes, os pontos cardeais, exprimem-se em graus para serem mais exactos. Quando se observa a bussola, nota-se que esta não só contém os pontos cardeais, mas também algarismos dispostos como nos relógios a partir do zero no ponto Norte, descrevendo o circulo e terminando outra vez no Norte com o número 360. Por conseguinte, qualquer ponto pode ser indicado com um rumo da Rosa-dos-Ventos ou com um número de graus. Assim o Este são 90º, o Sul são 180º, o Oeste são 270º e assim por diante. Em vez de dizermos Sudoeste, podemos dizer 135 graus. Um segundo jogo de marcas divide a esfera da bussola em quartos que assinalam os pontos cardeais: N, E, S e O (Norte, Este, Sul e Oeste).

 
Norte Magnético, Cartográfico e Geográfico

Em topografia utilizam-se 3 Nortes, que dão lugar a 3 direcções básicas, ou directrizes que são:
Norte Geográfico ou Verdadeiro: Que dá lugar à meridiana geográfica ou astronómica e que pode obter-se em qualquer ponto por observações astronómicas. É habitualmente representado por uma estrela, ou em cartas menos recentes, aparece representado por uma linha cheia com as iniciais “NG”.

Norte Magnético: Que nos proporciona a meridiana magnética e que nos materializa a agulha magnetizada. Não é o Norte verdadeiro, mas um lugar a Oeste dele na Ilha de Baffin, ao Norte do Canadá e cujo ponto varia de tempos a tempos. É normalmente representado pela metade da ponta de uma seta, ou em cartas menos recentes pode aparecer representado por uma linha tracejada com as iniciais “NM”.

Norte Cartográfico ou Fictício: O Norte do quadriculado, que dá lugar à meridiana do quadriculado e cuja direcção é marcada pela transformada do meridiano de referência do correspondente sistema de projecção, mantendo-se paralela a esta direcção em toda a extensão do mapa. Resumindo, é definido pelas linhas verticais da quadrícula das cartas. Normalmente aparece simbolizado pelas iniciais “GN” (Grid North – Norte da Quadricula) ou pela letra “Y”. Em cartas menos recentes pode aparecer representado por uma linha cheia carregada e com as iniciais “NC”.

Definição de Azimute

Azimute de uma direcção: É o ângulo que essa direcção faz com a direcção Norte, tomada para referência contada a partir deste e no sentido do movimento dos ponteiros do relógio.

O azimute inverso de uma direcção, é o azimute da direcção inversa.

Consoante o Norte tomado como origem, consideram-se os seguintes azimutes:

Norte Geográfico ------------------------------- Azimute Geográfico ou simplesmente Azimute

Norte Magnético ------------------------------ Azimute Magnético

Norte Cartográfico --------------------------- Azimute Cartográfico ou Rumo


Conclusão

Os Azimutes formam o nome da linha-base  a partir do qual são medidos:

Azimutes Verdadeiros ou Geográficos  a partir do Norte Geográfico,

Azimutes Magnéticos a partir do Norte Magnético,

Azimutes Cartográficos a partir do Norte cartográfico ou da Quadrícula.
Assim, qualquer direcção dada pode ser expressa de 3 formas diferentes:


Um Azimute Cartográfico, se medido numa carta topográfica,

Um Azimute Magnético , se medido com uma bússola,

Um Azimute Verdadeiro (Geográfico), se medido a partir de um meridiano.

Um Azimute Inverso, é o inverso da direcção de um Azimute. É comparável  ao fazer “meia volta”. Para obter o Azimute inverso de uma dada direcção, some 180º ao Azimute dado, se este for inferior ou igual a 180º, ou subtraia 180º se aquele for superior ou igual a 180º. O Azimute Inverso de 180º pode ser 0º ou 360º.


Definição de Carta e Carta Topográfica

O que é uma carta?

A finalidade de uma carta, é permitir-lhe visualizar uma porção de superfície da Terra, tal como uma ave voando sobre ela vê o terreno. Evidentemente, devido à variação de ângulos e distâncias, nem mesmo uma ave vê todas as características do terreno nas suas devidas proporções e formas. Por isso o cartógrafo tem de se concentrar nos pormenores que respondam aos interesses especiais dos utentes da carta.


Por exemplo, um condutor de camião não tem interesse nenhum em possuir uma carta com pormenores, tais como edifícios individualizados ou profundidades de vários rios que atravesse. Se as estradas da sua carta parecem muitas vezes mais longas que as cidades que atravessam, o condutor aceita tal distorção porque assim ela serve melhor as suas necessidades.

Portanto as cartas são representações planas reduzidas, simplificadas e completadas por sinais convencionais, duma zona da superfície terrestre, a uma dada escala.


Classificação das Cartas

Carta Planimétrica: Representação dos acidentes da superfície da Terra existentes numa determinada região sem o figurado do relevo do terreno, mas apenas com a planimetria.


Carta Topográfica: Representação planimétrica da superfície da Terra numa determinada região. Estas cartas mostram todos os pormenores das cartas planimétricas, mais as formas e elevações do terreno. São o tipo de carta mais útil que se deve possuir numa situação de sobrevivência.

Foto Carta: Reprodução de uma ou mais fotografias aéreas devidamente transformadas para a mesma escala, em que se inscreveram elementos adicionais.


Carta Hidrográfica: Carta topográfica de uma zona costeira, indicando profundidade marítima, faróis, bóias, referenciais da costa que permitem o estabelecimento de alinhamentos para a navegação próximo da Terra, etc.

Carta Itinerária: Carta indicando a localização de estradas, caminhos, vias férreas, etc.


Cartas Especiais: Plantas de cidades, geológicas, etc.


Escalas Numéricas e Gráficas

Como já foi dito, uma carta topográfica é um desenho sobre um plano, representado por uma folha de papel, de objectos ou pormenores de toda a natureza (estradas, aldeias, bosques, rios, etc) que se encontram na superfície do solo, assim como dos acidentes de terreno, tais como vales, colinas e montanhas.
Para que tal aconteça terá de se fazer uma representação tão exacta e precisa quanto possível. Logo a escala dá uma imagem do terreno, reduzida numa proporção fixa a que se chama ESCALA.


As escalas são dos seguintes tipos:

Numérica: por exemplo  1/25000 – representada por uma fracção em que o numerador é o algarismo 1 (unidade) e o denominador um número que indica quantas vezes se encontra ampliada no terreno uma distância marcada na carta. Neste tipo de escala (1/25000) 1 cm na carta, corresponde a 25.000 cm no terreno, ou seja, 1 cm na carta = 250 metros no terreno.

Gráfica: As cartas trazem o desenho de uma escala que se denomina, escala gráfica. Compõe-se de 2 pontos: 

- Talão (normal): dividido em 10 partes iguais, à esquerda do zero.
- Escala Primária



Informações Marginais na Carta Topográfica

Nome da folha: Na margem superior direita a folha toma o nome da povoação mais importante que nela se encontra.


Número da folha: Aparece na margem superior direita com uma representação do seguinte tipo:


Escala da Carta e Escala Gráfica: Aparece na margem inferior e ao centro.



Diagrama de ligação das folhas: Apresenta-se na margem superior esquerda e indica as folhas combinantes com a folha em questão, sendo que o número central corresponde à carta em questão e as que lhe dão continuidade estão numeradas ao redor do número da carta que temos em mão.


Convém saber que existem Cartas Topográficas que cobrem Portugal Continental na sua totalidade e seria de todo impossível existir apenas uma carta com todas as informações constantes de uma carta topográfica, pelo que no que concerne às cartas topográficas, o País está dividido em quadrículas numeradas, correspondendo cada quadrícula a uma determinada porção de terreno. Desta forma facilita também a aquisição de cartas topográficas, bastando comprar apenas a carta com o número correspondente à zona que pretendemos efectuar.



Legenda: Encontra-se na margem inferior. Geralmente as cores estão associadas ao tipo de visualização correspondente no terreno:

Preto: Aterros, desaterros, construções, caminhos de ferro, nomes.

Azul: Cursos e linhas de água, lagos, zonas pantanosas.

Verde: Vegetação (bosques, pomares, vinhas).

Castanho: Relevo (curvas de nível, vértices geodésicos, pontos cotados).

Vermelho: Estradas, pontes, nomes de vértices geodésicos.


Diagrama de Declinação: Parte superior direita, indica a posição relativa entre os Nortes Magnético, Cartográfico e Geográfico.



Escala de Tangente: Parte superior direita, marcação da direcção do Norte Magnético sobre a Carta.









Representações de Terreno

Uma das formas de representar o relevo numa carta topográfica é por intermédio das curvas de nível. 



Numa planta  topográfica, uma curva de nível caracteriza-se como uma linha imaginária que une todos os pontos de igual altitude de uma região representada. É apelidada de “curva” pois normalmente a linha que resulta do estudo das altitudes de um terreno são geralmente manifestadas por curvas. São associadas a valores de altitude em metros (m). Portanto a curva de nível serve para identificar e unir todos os pontos de igual altitude de um determinado lugar. Esta pode ser interpretada como uma batata, se a cortarmos em camadas, depois gradualmente desenhamos cada camada da batata numa folha de papel e poderemos interpretar o desenho como uma planta de altitudes de um lugar. Se repetirmos o acto várias vezes no mesmo papel poderemos unir os pontos de iguais altitudes formando uma curva de nível.



As curvas de nível indicam uma distância vertical acima ou abaixo, de um plano de referência de nível. Começando no nível médio dos mares, que é a curva de nível zero, cada curva de nível tem um determinado valor. A distância vertical entre as curvas de nível é conhecida como equidistância, cujo valor é encontrado nas informações marginais da carta topográfica.



As curvas de nível têm as seguintes propriedades:

As curvas de nível são linhas que unem pontos de igual altitude.

Portanto, todos os pontos de uma curva têm a mesma altitude ou cota.

Duas curvas de nível nunca se tocam ou cruzam. Se isso acontecer será resultado de um efeito visual, uma vez que na verdade uma curva passa por baixo da outra, e deve ser representada com uma linha tracejada ou pontilhada.



Uma curva de nível tem sempre um fim, seja fechando-se em si mesma, dentro ou fora dos limites do papel.

Uma curva de nível nunca se pode bifurcar.

Terrenos planos apresentam curvas de nível mais espaçadas e em terrenos acidentados as curvas de nível encontram-se mais próximas umas das outras. Quanto mais juntas, maior será o declive.

A representação de um terreno mediante o emprego das curvas de nível, deve ser um reflexo fiel do próprio terreno.


Tipo de acidentes do terreno

Colina: A colina é uma pequena elevação do terreno de forma aproximadamente cónica e redonda na parte superior. As superfícies laterais da colina ou de qualquer outra elevação do terreno, recebem o nome de Ladeiras ou Vertentes. Se estas ladeiras ou vertentes são quase verticais, recebem o nome de Escarpas. Quando a Colina está isolada no terreno, recebe o nome de Outeiro. Se as Ladeiras forem muito inclinadas e o terreno for penhascoso, chama-se Cerro. Se a parte superior da Colina for extensa, damos-lhe o nome de Lomba.


Cova: A Cova é o contrário da colina, ou seja, uma depressão do terreno em relação ao que o rodeia. Se a queremos representar de um modo análogo ao que fizemos com a Colina, vemos que a sua representação é análoga à da colina, com a diferença de que neste caso as curvas de maior altitude envolvem as de menor altitude.


Nos planos topográficos, a representação das Covas muito raramente se apresenta, e nestes casos devem representar-se as curvas de nível com linhas tracejadas porque, sem ter de se observar as altitudes das mesmas, não se confunda uma Colina com uma Cova. Quando existe água na Cova e ocupa uma grande extensão de terreno, recebe o nome de Lago. Quando a extensão de terreno ocupada é pequena, então são Lagoas.

Vales: Se cortarmos a figura que representa a Cova por um plano perpendicular ao da figura e considerarmos qualquer das duas partes em que a dividimos, teremos a representação de um Vale no terreno.


Nestas, assim como nas Covas, as curvas de nível de maior altitude, tendem a envolver as altitudes menores. É evidente que a visão de dois Vales, forma uma Cova.



Tergos: Se fizermos com a representação da Colina, o mesmo com a figura da Cova, ou seja, se a cortarmos por um plano perpendicular ao da figura, vamos obter a representação de um Tergo no terreno. Nestes, como nas colinas, as curvas de nível de menor altitude tendem a envolver as maiores.



A linha resultante da união dos pontos A, B, C, D,… de maior curvatura de um Tergo, recebe o nome de Linha de Cumeada. A Linha de Cumeada é portanto, a linha ideal do terreno que nos marca a separação de águas que se dirigem a ambas as vertentes ou ladeiras.

Colo: As Linhas de Cumeada e as linhas de água, são formas contrárias. Há sempre uma cumeada entre duas linhas de água e entre duas linhas de cumeada  existe sempre uma linha de água.

As Linhas de Cumeada apresentam de vez em quando uma depressão, dando lugar a um Colo (Fontela ou Garganta). Segundo a forma do mesmo, recebe diversos nomes: Garganta quando é comprido e estreito, Desfiladeiro quando é profundo e está ladeado de ladeiras ingremes, e por último recebe o nome de Ponto quando é de fácil acesso.


Identificação na Carta de Acidentes de Terreno



Distância entre dois pontos

. A distância entre dois pontos, medida directamente na carta de acordo com a correspondente escala, é a distância horizontal.

. Para se medir a distância real no terreno, é necessário fazer o levantamento do perfil do terreno correspondente.

. Dá-se o nome perfil, à intersecção do terreno por um plano vertical.



Construção de um perfil

1º Traça-se na carta, a linha que define  intersecção do terreno;

2º Levanta-se uma perpendicular a esta linha, na qual se marcam as equidistâncias gráficas;

3º Traçam-se paralelas à linha que interceptam o terreno, pelos pontos que determinam as equidistâncias;

4º Levantam-se perpendiculares à mesma linha, pelos pontos de intersecção com as curvas de nível, até encontrar as horizontais correspondentes à cota indicada;

5º Ligam-se os pontos de intersecção das horizontais, por uma linha contínua suave, não passando de um declive para outro bruscamente.



Pode funcionar também de modo inverso, para elaborar uma carta improvisada a partir da imagem do terreno real, se nos encontrarmos num plano elevado, pode haver necessidade de elaborar uma carta que nos ajude a orientar quando nos encontrar-mos num plano inferior e sem grandes pontos de referência.


De seguida vamos verificar as partes que constituem uma bússola.


Após esta apresentação teórica, mas necessária,  iremos passar à questão mais prática, o que acontecerá no próximo artigo a ser publicado, pelo que estudem esta matéria para melhor compreenderem a próxima.

Entretanto… não se percam

E boas caminhadas

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