26 novembro 2011

O calçado de montanha

Muitas vezes se houve dizer que um quilo nos pés, é o equivalente a cinco quilos nas costas. É uma afirmação que não se baseia apenas em frios dados clínicos ou ciêntificos, mas também pela incómoda realidade da experiência.
Durante anos as bolhas nos pés e a forma como as curar, foi uma parte desafortunada das actividades ao ar livre. Seja por usar botas novas a estrear, ou porque as meias roçam onde não devem, ou ainda por usar botas demasiado rígidas para as actividades para que foram desenhadas. Seria absurdo dizer agora que as botas normais de couro apenas trazem incomodidade, mas durante anos ouvimos dizer que este tipo de botas eram as únicas que podíamos eleger para a montanha. Esta visão dogmática foi apoiada pelos centros de montanha, pelos autores de manuais práticos e diversas equipas de salvamento, possuídos pelo síndroma de “usarás botas fortes”. Estas mentalidades estão a mudar. As pessoas começam a admitir que as pesadas botas de marcha são um problema, são dispendiosas, durante as primeiras marchas e até que se moldem ao pé podem ser incómodas e produzir bolhas, degradam o terreno macio e por vezes usam-as somente para manter a imagem do “macho”, a tentativa do “domingueiro” para se identificar com os heróis da montanha. Felizmente estamos a alcançar um ponto em que podemos eleger. À cerca de 65 anos atrás, a incorporação de materiais de borracha nas solas originou um grande salto na evolução do material de montanha, uma vez que pela relação qualidade/dureza/aderência, superou largamente os materiais existentes até então.
Este fenómeno é paralelo à explosão da industria do calçado desportivo. As sapatilhas de desporto transformaram-se mais além do imaginável durante os anos setenta. A ciência da pedologia, os novos sistemas de produção e os novos materiais, combinaram-se para o fabrico do novo calçado desportivo de alta tecnologia, que é mais ligeiro e mais forte que o seu antecessor, os quais oferecem amortecedores interiores, reforços para o calcanhar e solas especiais. Cada vez mais, as pessoas substituem as botas tradicionais pelas confortáveis sapatilhas desportivas, nas incursões à montanha, apercebendo-se da liberdade que confere um calçado com estas características. Em 1978, a expedição americana K2 calçou-se com sapatilhas Nike LDV durante todo o trajecto excepto no terreno mais difícil da marcha de aproximação e Reinhold Messner assombrou os tradicionalistas quando anunciou que subiu até aos 8000 metros no Evereste em solitário e sem oxigénio com sapatilhas calçadas. Não é necessário dizer que os fabricantes de calçado desportivo rapidamente ampliaram este novo mercado, dando origem à revolução das botas de marcha, resultando em botas de marcha sintéticas adequadas a grande variedade de terrenos, desde o simples passeio a difíceis vias de escalada.

As botas tradicionais

Na realidade, as botas de marcha. Como as conhecemos, estão a sofrer mudanças radicais. A preocupação tecnológica, uma maior preocupação pela comodidade e o interesse em reduzir ao mínimo o impacto ecológico, estão a converter as botas de montanha de médio e alto peso em algo obsoleto. Actualmente o montanheiro especializado tem vindo a substituir o seu calçado por botas de plástico mais ligeiras, no entanto, no inverno, quando o solo está coberto de neve e é necessário colocar crampons para enfrentar as pronunciadas pendentes geladas, dá uma certa confiança sentir os pés protegidos por um par de rijas botas de couro com solas normais de Vibram. Foi na década dos anos 80 que apareceram as primeiras botas com carcaça de plástico que em condições de frio extremo, superavam em propriedades térmicas, as de pele. O aparecimento das botas plásticas, não implicou o desaparecimento das clássicas botas de pele, pois com as botas de pele obtem-se maior flexibilidade e sensibilidade. As botas de pele transmitem melhor as sensações de agarre e tracção e obtem-se um maior controle da pisada permitindo ainda uma transpiração que evitará problemas nos pés. Recentemente, com a tentativa de melhoramento dos materiais, apareceram os primeiros substitutos das botas plásticas por botas com exteriores de pele, com tratamentos hidrófugos que as mantêm impermeáveis e transpiráveis, e forros interiores de grande retenção térmica.
Umas botas de couro de qualidade, suficientemente grandes para poder colocar dois pares de meias e permitir inclusive que os dedos se movam, constitui algo de necessário para o montanhismo com neve. O couro de qualidade tem uma resistência natural à água e impermeabiliza-se com facilidade. É importante que as botas tenham o mínimo de costuras, uma vez que estes são os pontos mais permeáveis. Uma boa sola e uma língua de costura interna são também importantes para manter a água distante. Obviamente, quanto mais impermeáveis sejam as botas, maior é o risco de a condensação nos humedecer os pés.

Tipos de botas

Os sapatos de marcha são na realidade, sapatilhas desportivas reforçadas, desenhadas para excursionismo de um dia em climas secos, ou para os que querem caminhar mais ligeiros. A parte superior neste tipo de calçado, costuma ser de nylon, reforçado com couro ou com emplastro e a sola normalmente é mais dura que a de umas sapatilhas normais.

A bota de aproximação, distingue-se dos sapatos de marcha através dos reforços do tornozelo mais altos, mais almofadados, maior suporte e maior impermeabilização. As botas de aproximação, são ideais para o montanhismo de verão porque são leves e confortáveis e inclusive têm um bom suporte devido aos reforços rígidos do calcanhar. O nylon com emplastros de couro é o material mais utilizado no seu fabrico. Utilizam-se forros de Gore-tex para aumentar a impermeabilidade. Os montanheiros que costumam sofrer com os pés molhados, podem achar as botas de aproximação demasiado leves e porosas.








As botas de marcha de média montanha, parecem-se mais com as botas tradicionais do que com as sapatilhas desportivas. São mais pesadas que os sapatos de marcha e as botas de aproximação. Muitas botas de marcha tentam unir a alta tecnologia e resultado das sapatilhas desportivas, com o conforto, a estabilidade lateral e a impermeabilidade das botas tradicionais. Muitas conseguiram-o. No entanto convém questionar se vale a pena comprar umas botas sintéticas que pesam tanto como as tradicionais de couro.

Partes de uma bota técnica de montanha


1
- Biqueira rígida para a protecção dos dedos. 2 - Palmilha removível, absorvente e transpirável. 3 - Entresola flexível e anatómica com torção longitudinal para maior controle. 4 - Dupla e tripla costura. 5 - Gancho com sistema auto-bloqueante. 6 – Cordão de alta resistência. 7 – Anilhos de costura rápidos e inoxidáveis. 8 – Gola da canela acolchoado. 9 – Presilha para ajudar a calçar a bota. 10 – Membrana impermeável e transpirável. 11 – Zona acolchoada para auxiliar o conforto. 12 – Suporte rígido para envolver e proteger o calcanhar. 13 – Amortecimento. 14 – Densidade média para amortecimento. 15 – Sólas com desenho anti-deslizante. 16 – Parede lateral, para suportar o pé no debrum. 17 – Exterior em pele hidrofugada. 18 – Protecção adicional para as costuras da entresola.


Construção e materiais de uma bota moderna ligeira


A maioria das botas têm solas de EVA e palmilhas ortóticas de espuma de Frelin amovíveis. EVA significa Etil-vinil-acetato e Frelin é o nome de uma fibra de polietileno. Quando se combinam na sola intermédia, formando um emparedado de distintas densidades, o EVA melhora a estabilidade e o almofadado. A função da palmilha de Frelin é semelhante, permitindo moldar-se à forma do pé do caminhante. A maioria das botas actuais são sintéticas, ainda que existam algumas botas ligeiras de couro. O nylon de grosso calibre costuma utilizar-se com emplastro e reforços de couro, cosidos geralmente à volta do sapato no ponto onde se juntam a parte superior com a sola. Existe uma variada gama de solas, no entanto a tradicional sola de Vibram continua a ser a mais comum. Ainda dentro do Vibram existem diferentes modelos, tendo alguns o desenho pouco pronunciado causando assim menos danos ao terreno. Em todas as solas, a tracção é importante. Algumas botas têm solas com tacos biselados que se apoiam no terreno de um modo natural e contribuem eficazmente para uma passada cómoda.
Entre as partes de uma bota técnica de montanha podemos destacar:


Sólas


A borracha é o elemento mais utilizado. Segundo o material e o desenho recortado na sola, teremos maior ou menor aderência em terrenos molhados ou gelados. Os recortes destas solas estão projectados para expulsar o barro e elementos que possam aderir aos mesmos (fig.3). A repartição das distintas densidades da sola, principalmente do calcanhar, ajudará a amortecer os impactos de choque do nosso corpo contra o terreno (fig.1 e fig.2). Este efeito também se consegue em alguns modelos através de câmaras de ar situados igualmente debaixo do calcanhar. As solas com escassa absorção de impactos, transmitem as ondas perceptíveis da planta do pé até à base dos músculos quadricips, enquanto que em todas as solas técnicas, apenas alcança o joelho. O recortado destas solas está concebido para que em descidas, o calcanhar retenha a bota e não deslize (fig.4), enquanto que nas ascenções consegue melhor aderência graças à biqueira (fig.5) e ainda, a forma e resistência das laterais (fig.6) proporciona um melhor agarre do pé nos lados evitando torções e lesões devido às irregularidades do terreno. Algumas solas dispõem de uma ranhura na biqueira e no calcanhar, propositadamente para acoplar crampons de fixação automática. Da mesma forma que acontece com os pneus dos carros, a borracha de que são compostas as solas do calçado, envelhece com o passar do tempo, pela acção do frio, do calor, da oxidação e dos raios UV, sendo o resultado num endurecimento do material que irá perdendo características de aderência. Por este motivo, a partir dos 4 ou 5 anos, mesmo que o calçado não tenha demasiado uso e ainda conserve um aspecto bom, simplesmente por razões de segurança, devemos questionar-nos se o escorregar contínuo não nos estará a advertir que é necessário substituir as nossas queridas botas.




Palmilhas

As palmilhas são fabricadas em diversos e diferentes materiais e densidades, oferecendo grande comodidade ao arco plantar. As formas anatómicas permitem um apoio perfeito do calcanhar ao encaixa-lo na base da bota (fig.7), configurando assim um sistema anti-torção e de controle da queda interior ou exterior do calcanhar (fig.8). Algumas palmilhas são fabricadas com orifícios de arejamento e canais de evacuação para a circulação do ar. Tudo isto contribui para combater as fadigas musculares.

Interiores


Existem botas que possuem uma peúga de membrana situado entre o forro interno e a carcaça externa, que combinado com o termoselado das costuras e a protecção dos ganchos metálicos, impermeabilizam totalmente a bota, permitindo ainda a transpiração da pele. Convém esclarecer que este tipo de membranas ao ser combinadas com os distintos materiais da bota e o ácido da pele, vai perdendo qualidades. O mesmo efeito produz a flexão repetida que se produz ao caminhar, o elevado peso corporal e o deslizamento do pé que causam micro desagarres interiores do material, razões pelo que após 3 ou 4 anos e dependendo do tratamento a que estejam sujeitas, a membrana perderá a sua total flexibilidade. São materiais que cumprem exigentes normas internacionais de qualidade, mas às quais não podemos exigir o impossível. Materiais térmicos com espessuras mínimas, comuns nas botas de alta montanha, isolam os pés do frio exterior sem provocar volume nem peso adicional e permitindo melhor tacto sobre o terreno. No caso das botas de plástico, as polainas interiores são independentes das carcaças exteriores e amovíveis. Além do mais, as botas plásticas são usadas exclusivamente para alta montanha e condições extremas devido ao poder de retenção térmico que possuem.


Exteriores e carcaças


Para a confecção dos diferentes tipos de botas utilizam-se , desde as carcaças independentes de plástico nas botas de alta montanha e expedição, ao nylon cordura, camurça e peles para o exterior, com o que se consegue comodidade, adaptabilidade e resistência à abrasão. O hidrofugado das peles e a impermeabilização dos nylons e camurças, conseguem repelir a água protegendo os materiais contra a humidade exterior. As costuras são reforçadas, com costuras duplas e triplas para conseguir uma extraordinária solidez e durabilidade do calçado. As biqueiras estão reforçadas interiormente com uma peça rígida para proteger os dedos dos pés de golpes, assim como o reforço que envolve o tornozelo e o mantém firme. Os cordões super resistentes permitem um fiável laçado e um uso prolongado. Alguns modelos dispõem de ganchos de sistema auto-bloqueante, que permite variar a tensão do cordão para poder laçar, independentemente da pressão da biqueira e da pressão da cana da bota. O reforço acolchoado adicional em volta da cana da bota, dá maior comodidade sobretudo nas descidas. Os modelos exclusivamente femininos e infantis estão desenhados de maneira que ao longo do peito do pé sejam um pouco mais reduzidos e a zona do tendão de Aquiles ajustado à sua morfologia para conseguir uma maior adaptação.


Tipos de peles


Existem vários tipos de peles com as quais podem ser confeccionadas as botas de montanha. Para a confecção de uma bota de montanha de pele, devem utilizar-se peles de animais saudáveis e seleccionar-se somente as melhores zonas, como por exemplo as costas, para conseguir responder às altas exigências necessárias para uma prestação e duração óptimas do material. Uma vez curtida a pele do animal, esta será cortada e dividida em 3 capas (desenho A):
(B) Flor: É a parte mais exterior da pele e portanto a de maior qualidade. A pele Flor por sua vez está dividida em dois tipos, segundo o tratamento aplicado.
Brilho: É a pele Flor sem nenhum tipo de tratamento. O seu aspecto é brilhante e costuma ser mais barata que a Flor Nobuk.
Nobuk: Trata-se da pele Flor à qual se aplica um processo de raspagem para conseguir um maior índice de transpiração e um aspecto e tacto mais suave e agradável. É o tipo mais caro e de maior qualidade.
(C) Camurça: trata-se da segunda capa que aparece no corte da pele de animal. É uma peça de menor qualidade que a Flor, mas por sua vez mais económica. Para calçado de media montanha ou trecking ligeiro e hicking, pode ser uma boa opção.
(D) Crupon: É a ultima capa que se pode conseguir. São retiradas das barrigas e patas dos animais, sendo as peles mais baratas e de pior qualidade. Não podem ser usadas para a confecção de material tão exigente como são as botas de montanha. Esta pele costuma ser utilizada para a confecção de calçado barato e inclusive alguns fabricantes chegam a utiliza-la em imitações de botas de montanha que apresentam uma duvidosa qualidade.






Vamos às compras


Como escolher a melhor bota, segundo a utilização.


. A actividade que vamos realizar em conjunto com o tipo de terreno que vamos pisar e a época do ano em que faremos a actividade, são o kit da questão. Antes de comprarmos umas botas, devemos levar em conta estas 3 coisas bem claras.
. Se realizas pequenas incursões na montanha e somente desejas aproximar-te da natureza, andar por veredas e caminhos, deves eleger uma bota de caminhada ou hicking.
. Se desejas um calçado para utilizar numa suave caminhada de fim de semana em media montanha, com destino a um local confortável e seguro, deves eleger umas botas de trecking ou de couro. As botas de couro cada vez se utilizam menos, mas são uma boa opção a levar em conta, pois normalmente duram mais desde que tenham um bom tratamento. Estes dois tipos de botas são suficientemente flexíveis e ao mesmo tempo robustas para proporcionar um bom conforto e comodidade neste tipo de actividades e de terreno. Devemos procurar as botas que tenham uma sola suficientemente firme e dotada de um bom desenho e rasgos adequados. Para este tipo de actividades, as botas devem ter cano para proteger o tornozelo de torções. Não necessita de uma cana como as botas técnicas, mas sim uma cana média de modo que consiga proteger o tornozelo. Se a actividade se desenrolar em períodos secos procuraremos uma bota com o máximo de transpirabilidade em deterioramento da impermeabilidade.



. Se o que procuras é um calçado para chegar ainda mais alto, com o qual possas pisar sem problemas, neve ou gelo e permita colocar uns crampons, proporcionando maior protecção contra o frio, deves eleger umas botas de alta montanha. Em média montanha dificilmente encontraremos neve dura, mas encontraremos varias espessuras de neve fofa. Em face da probabilidade de encontrar neve, a bota precisa ter uma cana maior e de preferência com sola que mesmo que flexível seja cramponável. Uma vez que encontraremos neste tipo de actividades, condições mais duras do que em tempo seco, devem ser umas botas mais técnicas que incluam uma membrana que nos permita um bom grau de impermeabilização e transpirável e características anti-abrasivas.


. Se o teu objectivo for mais ambicioso e o que pretendes é conquistar um cume em condições extremas de frio, deves eleger umas botas classificadas como de alta montanha extrema, ou botas técnicas de alpinismo e montanhismo. Para terrenos técnicos ou alpinos, procuraremos sempre uma bota dura de solas rígidas, chamadas botas de alta montanha ou botas técnicas. Quanto mais técnico seja o terreno, melhor funcionam umas botas rígidas. Durante as marchas de aproximação, as solas rígidas tornarão o caminhar um pouco pesado, mas contam a seu favor, que ajudam também a reduzir a fadiga dos nossos pés e pernas nos momentos que teremos que superar zonas com pequenos ressaltos rochosos e cascalheiras. Para progressão na neve dura com crampons, são as botas perfeitas, devido ao seu peso e à sua rigidez. As solas duras permitem também um maior controle se for necessário escalar ou trepar por terreno rochoso, pois adaptam-se melhor e têm maior estabilidade em pequenas saliências ou buracos. A cana destas botas deve ser sempre alta. Existe a possibilidade de adquirir botas de cano extra alto para aquelas pessoas que vão caminhar quase sempre por terrenos com muita neve, ainda que actualmente estes canos estão caindo em desuso devido ao seu incómodo, e podem facilmente ser substituídos por polainas.


. Se o teu objectivo for mais ambicioso ainda e pretenderes escalar em gelo, então deves eleger umas botas para esse fim. Ainda que historicamente se tenham utilizado botas de plástico para esta actividade, hoje em dia existem botas de material sintético muito parecidas às do capitulo anterior, visto que permitem maior conforto. Mas também é verdade que as botas de plástico permitem maior controle nestas situações, pelo que é a opção mais recomendável, ainda que o pior seja o seu transporte e claro, caminhar com elas. As botas de plástico proporcionam-nos o maior grau possível de rigidez, pois são completamente rígidas por fora e são ideais para utilizar crampons técnicos e além disso são 100% impermeáveis. No seu interior incluem meias de material sintético com as propriedades necessárias de isolamento e transpiração. A sua utilização não fica limitada à escalada em gelo, pois também podem ser utilizadas com raquetes ou travessias de vários dias por terrenos nevados. Actualmente estão a ser aplicadas novas tecnologias nestas botas que as tornam cada vez mais polivalentes.

Outras características a levar em conta para eleger a melhor bota


. Para sair dos caminhos, a bota deverá proteger os tornozelos, deves eleger botas de cano alto.
. Se vais percorrer terrenos húmidos chuvosos, deves prestar especial atenção à impermeabilidade da tua bota.
. Para baixas temperaturas com neve, as botas devem ser preparadas com isolante térmico, para suportar melhor as temperaturas extremas.
. No caso de ser necessário o uso de crampons, deves eleger uma bota com sola rígida. Se os crampons forem automáticos, a sola requer uma forma apropriada na biqueira e no calcanhar para adaptar os crampons automáticos (as botas de trecking preparadas para adaptar crampons automáticos não são adequadas para travessias invernais, pois podem causar problemas de congelamento).
. O comprimento da bota é um factor muito importante. A bota não deve ser demasiado grande, pois o pé move-se dentro dela e poderá causar bolhas por fricção. Também não devem ser demasiado justas, pois magoarão os dedos nas descidas. Aconselha-se que o interior da bota deve medir no mínimo 1 cm a mais que o pé. Para testar o comprimento deve colocar um dedo (nem mais nem menos) entre a bota e o pé, estando na posição de pé com a bota colocada e sem atar os cordões, e com os dedos pressionadas até à frente da bota. Quando atares os cordões e ajustares a bota ao pé, este deslizará para trás, deixando um espaço vital para os dedos.
. O ajuste superior da bota, sobre o arco do pé é em simultâneo com o comprimento um factor muito importante. Se os cordões não ajustarem bem o pé, este move-se enquanto caminhamos. Para experimentar o ajuste superior podes atar os cordões e de seguida colocar a palma da mão por cima do arco do pé. Se a bota calçar correctamente, deves ter uma sujeição estável, sem que seja demasiado estreito nem demasiado largo. Se a bota é demasiado grande ou larga, os ganchos dos cordões aproximam-se demasiado. Se forem demasiado pequenas ou estreitas, sentirás o pé comprimido e os cordões encurtam muito.
. O calcanhar deve encaixar o melhor possível na parte de trás da bota e não deve mover-se de um lado para o outro. De preferência não deve subir mais que 5mm desde a palmilha. Demasiado movimento do calcanhar será normalmente causa de bolhas nos pés. Podes experimentar as botas colocando-as nos pés e apertando bem os cordões e então dar golpes no chão com a biqueira voltada para o solo, de forma a tentar mover o pé para a frente dentro da bota. Logo que os pés tenham chegado à biqueira, comprova se o calcanhar se moveu. O calcanhar do pé deve-se ajustar à base do calçado, oferecendo uma fixação total contra o cano do tornozelo.
. Deve existir sempre um espaço para os dedos do pé dentro das botas, tanto à frente como dos lados, entre os pés e a biqueira da bota. Um espaço reduzido machucará os dedos, principalmente nas descidas. Para testar isto, deves colocar as botas e apertar bem os cordões e pisar o solo ou saltar algumas vezes, para verificar se os dedos são pressionados contra a biqueira da bota. Deve existir espaço suficiente dentro da bota para poder mover os dedos.
. A biqueira da bota, deve permitir que o movimento produzido ao caminhar não dificulte a corrente sanguínea e o conforto dos dedos.
. Uma bota muito ajustada ao pé pode produzir má circulação sanguínea, provocando o arrefecimento dos pés e aumentando assim a probabilidade de aparecimento de congelações.
. Se tivermos que optar por uma bota justa ou larga, é preferível optar pela larga, pois ainda que fiquem largas, as botas têm tendência a encolher um pouco e é sempre possível encher com umas meias mais grossas e além disso os pés incham um pouco durante as caminhadas, principalmente se caminharmos para cotas mais altas.
. É aconselhável experimentar a bota subindo e descendo uma rampa, pois o comportamento do calçado no terreno plano é diferente do que vamos encontrar nas nossas saídas, onde os desníveis serão comuns. Desta forma o pé move-se de forma natural e poderemos detectar folgas e possíveis futuras moléstias.
. É necessário experimentar as botas, pois é normal que se tenha um pé maior que o outro, e ainda que a diferença seja mínima (meio número na medida inglesa, implica uma diferença de 4mm de comprimento), por vezes depende deste pormenor a escolha do tamanho da bota. É conveniente escolher um tamanho que se necessite e não um tamanho superior como se fazia antigamente.
. Quando experimentar as botas, é conveniente levar calçadas as meias que usaremos nas nossas caminhadas, levando em conta que umas boas meias é primordial para conseguir o máximo rendimento do calçado.
. Quando decidires comprar umas botas, é preferível experimentar as botas no período da tarde, porque o pé pode inchar até um tamanho acima durante o dia, o que naturalmente também acontecerá durante a realização de actividades desportivas.
. Não te fies demasiado no teu número normal de calçado. Dependendo de cada fabricante, forma, palmilha, etc, podem existir diferenças bastante grandes para um mesmo número. O tamanho é indicativo. A marca Bestard, por exemplo, oferece uma grande variedade de formas, tamanhos e tamanhos intermédios suficientemente ampla para que possas encontrar uma bota que se ajuste bem ao teu pé, não esquecendo o comprimento, a planta do pé, o calcanhar, o tornozelo, espaço para os dedos e a perfeição do calçado.
. Quando experimentares as botas, examinar se existe alguma costura ou pormenor de mau fabrico que cause incómodo.
. Se estiveres na dúvida entre dois modelos semelhantes, confia sempre na tua primeira impressão.

Conselhos práticos


. As botas confeccionadas com tecidos e peles finas (trecking e hicking), podem-se tratar com produtos que impermeabilizam a parte externa. Este pormenor é importante, pois mesmo que algumas botas tenham membranas interiores impermeáveis e transpiráveis, se o exterior se molhar, perderemos calor na pele.
. Em caso de frio intenso e caímbras, podem usar-se cremes e loções especiais, que depois da sua aplicação, activam a circulação sanguínea, proporcionando calor na zona aplicada e uma sensação de repouso. Em caso de emergência também podem usar-se umas bolsas, que ao serem esfregadas, produzem uma reacção química libertando um intenso calor e que poderão ser aplicadas nos pés.
. Uma bota de um tamanho inadequado pode chegar a provocar bolhas nos pés, um dos maiores inimigos do montanheiro.
. No caso de surgirem problemas de bolhas nos pés, existem uns pensos muito finos, que imitando uma segunda pele, evitam e previnem a sua aparição.
. Umas boas meias, são fundamentais para um óptimo resultado das botas.
. As mudanças bruscas de temperatura, podem deteriorar e envelhecer prematuramente as botas. Assim devem ser evitadas as aproximações e/ou secar as mesmas junto do fogo, radiadores, junto a janelas de veículos fechados, expostas ao sol ou em exteriores.
. Se as botas se molharem, é conveniente seca-las à temperatura ambiente. È conveniente extrair as palmilhas e podemos ajudar utilizando papeis de jornal que serão introduzidos no interior da bota para absorver a humidade.
. Se a bota de pele for guardada durante longos períodos de tempo, ou se notarmos sinais de secagem (rachadelas), devemos aplicar um tratamento hidrófugo. Apenas podemos aplicar graxas sintéticas, uma vez que a tradicional graxa animal pode chegar a apodrecer a pele. Uma graxa inadequada pode destruir a hidrofugação original da pele.
. Devemos evitar que se introduzam nas botas elementos, especialmente pontiagudos ou cortantes, que possam deteriorar o seu interior, principalmente nas botas que tenham membrana impermeável e transpirável, a qual pode perder toda a sua eficácia.
. Se não tens um bom calçado, não te detenhas na neve. Coloca-te em cima de uma pedra para evitar a perda de calor por influência do contacto.
. É importante ter as unhas bem cortadas, para evitar que fiquem negras e acabem por cair.

Cuidados a ter com as botas

As botas sintéticas e ligeiras necessitam de tantos cuidados como as botas tradicionais. Inclusivé podemos aumentar a impermeabilização das botas ligeiras, tratando-as com assiduidade com produtos impermeabilizantes e de manutenção. Impermeabilizantes como Sno-Seal, Texnik, G-Wax, Leath-R-Seal, talvez sejam os melhores do mercado. Devemos prestar maior cuidado com as costuras. Para uma impermeabilização máxima, devemos tratar também o interior das botas. Quando as botas estiverem sujas, devem ser lavadas com jacto de água fria usando uma pequena escova para limpar os restos de lama e sujidade. Depois de as lavar e antes de as secar, deve ser dada cera a fundo com qualquer dos produtos mencionados ou outros existentes no mercado. À medida que as botas vão secando num local abrigado e arejado, o impermeabilizante vai secando nas costuras. Após as botas ficarem secas, deve-se repetir a operação de impermeabilização.
As botas de couro necessitam mais cuidados e atenção que as botas sintéticas e devem ser tratadas com azeite vegetal ou animal, como por exemplo o sebo, antes de as usar pela primeira vez. Após o tratamento, devem ser calçadas durante 3 ou 4 incursões de um dia para iniciar o processo de adaptação ao pé. Este processo deverá ser cuidadoso e gradual, pois leva algum tempo até que o couro se adapte e que as fibras e palmilha se moldem ao pé do montanheiro.
Perante o exposto, só resta desejar que disfrutes e aproveites ao máximo as tuas botas de montanha.
Boas caminhadas
Trabalho realizado por: Amadeu Barros

2 comentários:

  1. Qual é a vossa opinião relativamente à utilização de material EVA na sola intermédia de uma bota de caminhada? Atualmente isso parece ser uma tendência em muitos modelos.
    Tomando como exemplo a gama da Bestard, temos esta bota com EVA na sola intermédia:
    http://www.bestard.com/ficha_bota.php?id_bota=341

    mas fico com a ideia que uma sola do tipo da bota seguinte será sempre mais durável não só ao desgaste por abrasão, mas também por menos exposição aos elementos:
    http://www.bestard.com/ficha_bota.php?id_bota=356
    O problema é que estas últimas pesam praticamente 2KG.

    Será que a sola intermédia em EVA é uma má opção em relação a uma sola mais tradicional se considerarmos que as botas poderão se expostas a lama, água, pó, pedras, etc?

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    1. Olá Norberto. Lógicamente que não existe nada completamente perfeito. A sola EVA é uma boa opção, mas sinceramente, dois kilos de bota penso que é um bocado violento para caminhadas de várias horas. Hajam pernas. Eu pessoalmente opto pelas convencionais e aguardo que se fabriquem solas mais leves. Abraço

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